« Dói ao inicio,
ao inicio de um fim. Fim trágico. E um dia, quando a dor passar, porque não há
outro jeito, eu vou parar. Parar de acordar no meio da noite com um pesadelo
sobre ti ou vocês ou nos, vou parar de ter vontade de agarrar no meu telemóvel
e contar-to, parar de pensar que talvez em resposta eu possa receber um pouco
de consolo. Vou parar de acordar em busca de um sinal teu, que tiveste tu um
pesadelo e precisas do meu conforto, do meu carinho para matar uma pequena
saudade. Vou parar de acordar e aperceber-me pela milésima vez que não estás
mais aqui, que não há qualquer rasto teu, agarrar-me a almofada, chorar até me
arderem os olhos e adormecer novamente. Vou parar de acordar tremendo de medo
que nunca mais pensarás em mim, de medo que percas as memorias todas pelos
caminhos que escolheste. Vou parar de dormir com a tua camisola e cheira-la até
me faltar o ar. Vou parar de pôr no meu pulso o perfume que tanto usavas,
quando passar por ele na loja. Vou parar de comprar-te prendas que nunca mais poderei
dar-te. Vou parar de ouvir as nossas musicas e rever as fotografias. Vou parar de
usar tanto a roupa com qual gostavas de me ver, só porque isso faz-me sentir-te
por perto. Vou parar de imaginar-te com outro alguém. Vou parar de contar horas
que já não falamos, dias que já não te vejo, meses que já não te toco. Vou
parar de olhar para a tua janela com expectativa que estejas lá a ver-me
despercebidamente. Vou parar de ter medo de passar na rua e ver-te. Vou parar
de sobressaltar-me ao ouvir a campainha e imaginar que poderás ser tu. Parar de
pensar que cada vez que o telemóvel toca és tu e magoar-me por não seres tu. Vou
parar de procurar-te na multidão. Parar de querer que sejas tu a minha multidão.
Vou parar de querer partilhar os meus segredos e receios contigo. Vou parar de
pensar em todas as situações o que dirias ou farias tu. Vou parar de querer
mostrar-te os textos que escrevo para ti. E talvez eu paro de escreve-los.
Parar de esperar por algo que sei que nunca vai acontecer. Vou parar de pensar
em nos, como amor verdadeiro. Parar de pensar que foi uma historia digna de ser
contada e parar de conta-la. Parar de ter pena que terminou. Parar de ter tanta
carência de ti. Vou parar estar desesperada sem ti. Parar de pensar que o tempo
cura. Vou parar de existir para ti. Vou parar de odiar essa dor. Parar de odiar
esse texto, e quem sabe, parar de te amar e te odiar. »
14-04-2013