Deixo-me levar pelo cansaço e mau senso do presente . Deito me devagar na cama de casal, mãos enterram-se nos cabelos ruivos espalhados nos azuis lençóis de seda. Hoje não dormirei , não porque partilharei este leito com a alma que te destruiu, mas porque a alma quebradiça não partilhara esta cama com as ruínas do meu coração. Oiço os batimentos do relógio, do teu relógio, que por coincidência também o deixaste neste maléfico quarto, neste invalido testemunho do aconchego do provisório e esvaziado. Deixaste-o para eu não parar de calcular os segundos do teu demorado regresso, deixaste-o.. como este cheiro do amado, ficara estampado no meu rosto, nas minhas mãos.. O vento, agreste e inesperado, penetrou pela janela e arrastou toda a miséria da minha frágil consciência do teu ego. Não me aterrorizei nem um pouco, que me venham atacar todos os teus fragmentos sumidos, eu não tenho medo.
Virei para poder espreitar o obscuro e procurei o refugio no enigma da noite. Vi o escuro interminável e milhares de chamas cintilantes, entorpecida desprezei a contagem dos batimentos, perdi a noção do espaço e do tempo, estou dispersa nas memórias. É tudo o que me sobra, recordações e cicatrizes.
Já sinto o sono a chegar, indecisa e absorvida com a discussão dentro da minha cabeça entre descansar ou não, incontrolavelmente reparo que já não me sinto. Sem forças para negar, autorizo a separação da alma e do corpo, conduzindo-me ao estado de breve amnésia . Que passará quando eu pestanejar com o toque divino do sol do Outono .
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