Preto, branco, escuro, claro, pestanejo ao ouvir o despertador. São seis e meia , o corpo está pesado, está cansado . A imagem da tua cara invade o meu espírito, e é onde vou retirar a motivação. Abrir o dia a imaginar que poderei voltar a ver te, por instante, terei a oportunidade de observar-te, com cuidado memorizar mais um pouco do teu aspecto, gravar mais pedacinhos do que és feito, e hipnotizar-me mediante. Está um cumulo em mim guardado, está um grito não ouvido, está um abraço nunca dado. Estão os teus olhos incorporados, desgostados, implorados. Estão eles a debater me em desgosto contrariado. Desgosto da rara parte que me sobra da consciência. Contrariado pela pedra que é o suposto coração. Pois, essa maneira que me olhas, intimida, absorve, perturba.. e chama-me sem abrir uma passagem possível de eu chegar a ti. Está o mistério a retomar o meu auto controlo. Prende me a existência e coloca me no caminho da perseguição possessa e continua. Possuída pela resposta que nunca será desvendada , torno te no herói desta ficção.
Tu, oh meu duvidoso sagrado, fazes-me sentir perante uma questão: se sou, já uma mulher ou ainda ando perdida na menina? Pois navego entre dois conceitos conhecidos. Não sei o que sou nem o que preferia ser. Mas provavelmente uma menina. Desejava de poder ainda fixar-me na minha boneca nova, partir-lhe sem intenção a cabeça, que fosse esse o meu causador de choro, e que fosse essa a minha única inquietação. Chorar e saber plenamente que irei ter um outro brinquedo . Sim, eu adorava que fosse tão acessível para mim agora. Que fosse tão elementar resolver o entrelaçado presente. Mas um dia eu deixo de ser a mimada, arrojada e atrapalhada. Deixo de refilar por realidades minúsculas, deixo de ter opiniões distintas e vou concordar com todos e em tudo. Um dia deixo de acordar cedo e de tomar o meu café sem açúcar, deixo de me deitar tarde aos fins de semana. Deixo de teimosia e brutalidade nas expressões. Livro-me de todos os cadeados e fechos . Deito a minha agenda para o lixo. Um dia deixo de querer ser a superior no que faço, desisto das minhas lutas, brigas e deixo o destino me levar. Deixo as tentativas de alterar o mundo, paro de me revoltar. Deixo de desrespeitar as regras e ultrapassar os limites, farei todos os pedidos da minha mãe, cumprirei as promessas dadas. Um dia deixo de sonhar, sonhar contigo . Paro , por fim, de te esboçar nos pensamentos com detalhes bem abordados. Revelo os meus códigos e silêncios disfarçados, apago a fogueira que arde dentro de mim, a minha postura ambiciosa e lutadora eu desconheço, já não faz parte de mim, monotonia apoderou-se. É assim.
A indiferença é amarga e não traz consigo a recompensa. Quem abate-se no mistério cai na duvida eterna. E eu só te imploro, devolve me a vida e brinca com a alma.
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